Opinião

A liberdade das estrelas nos escudos brasileiros e as regras rígidas em cantos da Europa

<p>Fotos: clubes/divulgação</p>

Fotos: clubes/divulgação

A partir da discussão no Vitória, sobre a possível aplicação de uma estrela referente ao título da Série B, confira um texto mostrando a utilização atual no Brasil e as normas em ligas importantes no exterior

Após a merecida conquista da Série B, a torcida do Vitória se viu envolvida numa grande dúvida em termos de imagem. O clube deveria adotar ou não uma estrela acima do escudo, simbolizando o título inédito? Até então, o distintivo do leão era limpo. Vice da Série A em 1993 e da Copa do Brasil em 2010, o rubro-negro baiano já havia passado perto da “estrela dourada”. Por sinal, considerando o peso histórico, qual seria a cor desta possível estrela em 2023? Isso também entrou no debate, com o tema impulsionando ainda mais a rivalidade Ba-Vi, já que o tricolor de Salvador tem duas estrelas, num visual adotado só após o título do Brasileirão de 1988.

Antes, mesmo com o título da Taça Brasil, obtido no distante ano de 1959, o Baêa também usava um distintivo sem qualquer complemento. Passou a usar as estrelas e com o tempo o design enraizou. No Barradão, essa discussão foi parar numa enquete no site oficial do Vitória, com a votação sobre o uso da estrela sendo liberada apenas os sócios – hoje, o clube tem 33 mil sócios adimplentes, a sua maior marca. Partindo disso, vale ir um pouco além, já que no Brasil não há padronização. No futebol brasileiro, a utilização de estrelas acima do escudo, ou mesmo abaixo, cabe exclusivamente ao clube. Inclusive a cor da estrela e a representatividade.

Já citado, o Bahia usa duas douradas pelos títulos nacionais de elite. O Sport, por sua vez, tem três, sendo duas douradas, na mesma linha do Bahia, e uma prateada, pela Série B de 1990. Isso poderia até ser dentro de uma lógica, com as “cores olímpicas” valendo esta distinção, com o bronze significando a Série C, mas não é assim. O Fortaleza, por exemplo, traz o amarelo pela Série B de 2018, a mesma cor usada pelo ABC, campeão da Série C em 2010. Sem contar que o símbolo também pode ser marcado por conquistas internacionais.

De título estadual a título mundial

Usando o estilo há quase 40 anos, o Grêmio tem três estrelas, com o bronze pelos títulos nacionais (Brasileirão e Copa do Brasil), a prata pelas três Libertadores e o dourado pelo Mundial de 1983. Apesar da extensa galeria, o Flamengo tem apenas uma estrela, válida pelo Mundial de 1981. O Santos usa duas douradas pelo bicampeonato mundial na Era Pelé, em 1962 e 1963. E o São Paulo, tricampeão? Tem três estrelas, mas na cor vermelha. E ainda conta com mais duas douradas, que representam os ouros olímpicos do saltador Adhemar Ferreira da Silva. Pois é, a escolha é realmente livre. Tanto que o clube pode até usar por um tempo e depois mudar tudo, se quiser. O Santa Cruz chegou a ter oito estrelas! Três acima, pelo tri-supercampeonato pernambucano (1957, 1976 e 1983) e cinco abaixo, pelo pentacampeonato estadual. Hoje, nenhuma.

Ainda existem aqueles que colocam as estrelas dentro do próprio escudo, casos de Palmeiras e Náutico. No Verdão são oito, representando o agosto, o mês em que foi fundado, em 1914. Lembrando que há poucos anos o clube também passou a ter uma vermelha acima do escudo, pela Copa Rio de 1951, vista pelos palmeirenses como Mundial. Voltando ao design “interno”, o Náutico tem sete estrelas, sendo seis vermelhas pelo hexacampeonto, a maior sequência de títulos estaduais em Pernambuco, de 1963 a 1968, e uma branca pela conquista do certame local no ano do seu centenário, em 2001.

Portanto, até que a CBF queira se envolver nisso, e não me parece uma pauta a curto prazo, é algo que realmente cabe a cada time brasileiro decidir sobre os uso das estrelas. No entanto, alguns países optaram por criar regras bem específicas sobre o assunto. Na Itália, esse assunto na verdade faz parte da tradição no “Calcio”. O título italiano vale o uso do “scudetto”, com as cores da bandeira nacional, por uma temporada. Vem sendo assim no uniforme do Napoli na edição 2023/2024. Depois, para deixar a conquista marcada no uniforme, só acumulando dez títulos italianos da 1ª divisão. E isso vale apenas uma estrela! Para usar duas, só tendo vinte conquistas, e assim por diante.

A matemática vigente na Itália e na Alemanha

Hoje, a Juventus de Turim tem três estrelas, graças aos seus 36 títulos, com a “Velha Senhora” sendo de longe a maior vencedora do país. Tanto Milan quanto Internazionale têm apenas uma, mas ambos devem obter a segunda em breve, já que, curiosamente, cada um tem 19 títulos. Recentemente foi criado uma regra quase igual para a Coppa Italia, com dez títulos valendo uma estrela de prata. Só a Juventus tem esse direito, mas não usa, priorizando as douradas na camisa. Saindo do cenário “de dez em dez”, cabe um pouco mais de atenção na Alemanha. Considerando apenas o período da “Bundesliga”, iniciado na temporada 1963/1964, as estrelas por lá são dadas a partir de três títulos, mas sem tanta lógica matemática depois disso.

Afinal, três títulos alemães valem uma estrela. Então, seis taças valem duas, certo? Não. A segunda estrela vem com cinco títulos. Já a terceira estrela só pode ser bordada em caso de dez títulos. E a quarta estrela? Aí poderia ser até uma questão do Enem. Respondendo, só chegando a 20 estrelas somadas, enfim estabilizando a regra, com a quinta estrela vindo com 30 taças. Dominante, o Bayern de Munique já ostenta cinco, já que terminou campeão em 33 oportunidades. Depois, o ranking germânico tem um hiato até duas estrelas, com Borussia Dortmund e Borussia Mochengladbach, que já ganharam cinco títulos, cda. Com uma estrela, Werder Bremen (4 títulos), Suttgart (3) e Hamburgo (3).

Vai ter estrela em 2024?

E a resposta da enquete do Vitória? A resposta deve ser informada pelo clube em breve, com a aplicação a partir do padrão oficial de 2024. Mas não necessariamente em 2025. Lembre-se: no Brasil, a regra é livre. Mas geralmente parte da lógica universal: sendo campeão.