Opinião

2024, o ano das SAFs no Nordeste. Receita maior, propostas e implantações a caminho

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Foto: FPF/divulgação.

“Não tenho dúvida que Náutico e Sport vão virar SAF ainda em 2023. Os dois clubes estão conversando com os investidores e já têm o valor de mercado conhecido através dos estudos das consultorias”.

Esta declaração foi dada pelo presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Evandro Carvalho, durante uma entrevista em 4 de janeiro deste ano. Na ocasião, o dirigente me contou sobre o avanço das negociações, que na visão dele caminhavam para um desfecho. Estamos no fim da temporada e os dois rivais pernambucanos seguem sendo geridos pelo tradicional modelo de “clube associação”, em vez do formato como “Sociedade Anônima do Futebol”. Entretanto, o processo andou. E não só para alvirrubros e rubro-negros. Na verdade, hoje é possível vislumbrar um pesado aporte de recursos no futebol da região em 2024.

SAF do Bahia sinaliza recorde

Começando por quem já é SAF de fato e de direito. Gerido pelo Grupo City, que adquiriu 90% das ações, o Bahia vai para a segunda temporada neste modelo. Em 2023, o investimento foi orçado em R$ 230 milhões, o maior do Nordeste. Para 2024, num valor adiantado pelo recém-eleito presidente, Emerson Ferretti, o tricolor de Salvador deverá ter R$ 320 milhões no departamento de futebol, entre contratações, salários e estrutura. O valor, que não será administrado pela associação, que tem o ex-goleiro à frente, mas sim pelo Grupo City, corresponderia à 12ª maior receita de um clube brasileiro, observando o ranking da última temporada. A realidade econômica do Bahia está estabelecida e em breve o clube deve começar a brigar por coisas maiores no campo. Até porque a pressão para isso deverá crescer na mesma proporção.

Partindo agora para as futuras SAFs, Náutico e Sport deram um passo importante pouco depois daquela entrevista de Evandro. Em fevereiro e março, respectivamente, ambos entraram com o pedido de Recuperação Judicial. Num primeiro olhar, na verdade parece um passo atrás. Afinal, trata-se de um ato extremo para possibilitar a negociação coletiva das dívidas. No caso, cada um deve mais de R$ 250 milhões. Os pedidos foram acatados na Justiça, com o congelamento das dívidas e das penhoras durante 180 dias, com a renovação de mais 180 – o que aconteceu.

Quase R$ 1 bilhão na SAF do Náutico

Paralelamente à suspensão das cobranças, o pedido visava a elaboração de um plano de pagamento escalonado do passivo. Com a lei ainda recente sobre SAF, vários clubes do Brasil com dividas milionárias estão indo neste caminho, para obter descontos de até 90% em algumas pendências – os chamados “deságios”. Tudo para atrair investidores no estágio seguinte. No timbu, isso já aconteceu. Em setembro, o clube confirmou, através do seu demonstrativo contábil, o contato de um grupo interessar em investir R$ 980 milhões em até dez anos em troca de 90% da futura SAF alvirrubra.

Já sob nova gestão executiva, com Bruno Becker, o Náutico segue tratando deste assunto, que dificilmente se estenderá até 2025. Quanto ao Sport, apesar das notícias sobre sondagens, nenhum valor foi vazado até aqui. A tendência é que o rubro-negro do Recife busque um modelo de investimento na SAF semelhante ao do Coritiba, tanto pelo porte do clube no cenário nacional quanto pelo perfil, tendo um estádio que carece de reformas. O Coxa conseguiu colocar a modernização do Couto Pereira no acordo, algo que o Sport, que planeja um “retrofit”, também pode fazer. E o Santa Cruz? Curiosamente, o clube do Arruda foi o primeiro a pedir Recuperação Judicial entre os três grandes pernambucanos, ainda em 22 de setembro de 2022.

O caminho via Recuperação Judicial

No entanto, a situação esportiva atual do Santa, com o time fora até da Série D, pesa demais. Afinal, a cobra coral tem um passivo tão grande quanto o dos rivais, custo operacionais elevados, por causa do Arruda, e baixa expectativa de receita nos próximos anos. Naturalmente, a SAF é um plano de longo prazo em qualquer clube, mas a venda num momento assim, de “baixa”, acaba impactando sobre o valor desejado pelos tricolores.

Essa situação do Santa foi a justificativa de Evandro para não citar o nome do clube na aspa no alto desta coluna. Voltando a Salvador, quem também deve seguir o caminho da “RJ” é o Vitória, conforme noticiado pelo site Bahia Notícia em 12 de dezembro. Com um passivo de R$ 243 milhões, mas de volta à Série A, o leão baiano quer estruturar um plano de quitação da sua dívida para pavimentar o caminho para investidores, até porque hoje em ficando bem atrás do rival, o primeiro a encarar o modelo. A proposta de naming rights pelo seu nome, por R$ 200 milhões por dez anos, mostra que o Vitória está numa situação inversa à do Santa na mesa de negociação. Em tempo: a mudança de nome foi vetada pelos sócios.

Marcelo Paz como CEO no Laion

Por fim, o Fortaleza, garantido na elite nacional pelo 6º ano seguido. Nos âmbitos administrativo e econômico, parece ser o caso que todo torcedor gostaria. No caso, a utilização da SAF como captação de receita, mas sem perder o controle do clube. Ou seja, vendendo no máximo 49% das ações. O atual vice-campeão da Copa Sul-Americana havia projetado um orçamento de R$ 208 milhões nesta temporada, mas que deve terminar faturando muito mais. Em alta nos gramados, sem dívidas trabalhistas e com o passivo controlado, o laion apresenta um quadro atrativo em busca de parcerias, mesmo de menor porte.

Em setembro, os sócios aprovaram, com 95% dos votos, a implantação da nova modalidade de administração. E o diferencial ficou bem claro agora. O então presidente executivo do clube, Marcelo Paz, abdicou do mandato para se tornar o CEO da SAF do próprio Fortaleza, tendo um papel muito diferente e Ferretti no Bahia, por exemplo. A execução deste projeto deve ser finalizada em 2024. Se os prazos de todos os clubes listados forem cumpridos, será um ano interessante de acompanhar… A conferir.