Vôlei
Com metodologias diferentes, técnicos comentam preparação para final da Superliga e rivalidade entre Minas e Praia
Treinadores também falaram sobre a forte rivalidade entre os clubes na Superliga
Paulo Coco e Nicola Negro, duas origens bem diferentes que levaram ao mesmo lugar: a final da Superliga Feminina. De um lado, um pernambucano buscando mais um título para o Praia Clube, pela 1ª vez na sua casa. Do outro, um italiano querendo conquistar o Brasil com o Minas mais uma vez. Muito além das origens, as distinções nos trabalhos dos treinadores chegam às metodologias e formas de encarar essa decisão, marcada para as 10h deste domingo (21).
Questionado sobre o trabalho de motivação às vésperas da final, Nicola garantiu que esse não é o seu foco no Gerdau Minas. “Eu não sou um grande motivador, sou mais um técnico tático. Acho que há um problema se eu tenho que chegar no vestiário e motivar a jogar uma final de Superliga. Para mim, a grande motivação de ser o técnico do Minas é entrar todo dia na quadra, e a mesma coisa para minhas atletas, elas sabem bem o que precisam fazer em uma final. Eu busco sempre um perfil equilibrado, há também um componente de motivação, mas não é coisa muito do meu perfil de treinador”.
Paulo Coco, por sua vez, valorizou mais esse lado psicológico antes dessa final para o Dentil Praia Clube. “Óbvio que a grande motivação é estar neste momento, poder disputar a final, o título da Superliga, manter o título em Uberlândia, essa motivação vem por si só. É a grande rivalidade que tem feito os dois clubes crescerem. Eu acredito muito nos detalhes, no aspecto mental, em saber lidar com as situações de jogo, porque ninguém vai jogar bem o tempo inteiro, então acredito no momento, aproveitar, acreditar que pode fazer uma grande partida e ter lucidez para poder tomar decisões favoráveis à sua equipe”.
Rivalidade acesa na Superliga
Os dois trabalhos podem seguir caminhos diferentes, mas vem levando ao mesmo destino. Sob comando de Paulo Coco, o Praia está na 6ª final seguida de Superliga e soma dois títulos – incluindo o último. Com Nicola Negro, são cinco anos seguidos e três taças para o Minas sobre o rival de Uberlândia. Isso fora os vários outros títulos conquistados pelas equipes, que concentram as finais dos principais torneios nos últimos anos.
O pernambucano comentou sobre essa rivalidade. “É um clássico do voleibol brasileiro, duas equipes que vem protagonizando a maioria das finais nos últimos anos, muito mérito das equipe mineiras. É um orgulho muito grande, muitas dificuldades, uma temporada de muita persistência, de muitas mudanças na equipe, saídas de jogadoras, muitos altos e baixos”. Ele seguiu a análise, comentando sobre as dificuldades que o time enfrentou para garantir a vaga na final.
“Eu não eu não lembro de uma temporada com tanto 3 x 2 na minha vida como esse ano, muitas viradas, para um lado e para o outro, ainda bem que muito mais para o nosso lado. Muitos problemas de lesão, foram quatro cirurgias, mas a equipe nunca desistiu. Apesar de ter feito uma fase de classificação muito irregular, um playoff duríssimo, quartas contra o Sesi, semi contra o Sesc, e a equipe conseguiu persistir, chegar a uma final pelo 6º ano consecutivo”.
Nicola também reforçou a importância dessa rivalidade mineira. “Para mim, para o meu clube, meu time, é uma honra estar aqui. É a 5ª final consecutiva, a 5ª entre esses dois clubes, Minas e Praia. Na história do esporte, se você for buscar, são poucos os exemplos de uma saga tão longa, infinita. Um exemplo, claro, está no voleibol feminino brasileiro, alguns anos atrás, entre Osasco e Sesc, mas acho que ser parte dessa infinita saga é uma coisa grande”.
O clássico lembrado pelo italiano, entre Osasco e Sesc, decidiu 11 das 29 edições da Superliga, sendo nove em sequência. Ele continuou: “Estamos aqui com muito orgulho. No esporte, muitas coisas se dão por certo, muita coisa, mas não é assim, simples. Isso só confirma o resultado de um grande trabalho nosso e a mesma coisa para o Praia, que fez o um grande trabalho ao longo do ano”.
Da Itália para revelar as joias brasileiras
Tricampeão da Superliga, Nicola Negro chegou ao Brasil em 2019. Àquela época, ele já acumulava experiência por Itália, Turquia, Polônia, Azerbaijão, Eslovênia e Romênia, mas via o Brasil como uma referência. “Na minha chegada aqui, cinco anos atrás eu sempre vi o Brasil como uma Meca do vôlei, um planeta muito longe de onde eu cresci, a Europa, a Itália. E chegar aqui e foi uma coisa inesperada, mas de grande satisfação”.
Questionado sobre a experiência de trabalhar com promessas do voleibol brasileiro e ajudar a lapidar essas joias, o treinador viu isso como parte do perfil do Minas. “Tentei, nesses cinco anos, devolver sempre o melhor do meu trabalho, cheguei em um clube que tem um claro pedigree de crescimento de jogadoras. Tentamos respeitar a história, buscar títulos, jogar para ganhar e, ao mesmo tempo, cuidar do crescimento das atletas”.
Assim, ele lembrou de alguns nomes que ajudou a revelar, que estão hoje no elenco e devem estar com a Seleção nos Jogos Olímpicos de Paris. “Eu tive a sorte de trabalhar com grande grandíssimas jogadora e com talentos que chegaram no Minas ainda não afirmados e cresceram muito. A Julia (Kudiess), Kisy, Nyeme. Nós estamos sempre buscando crescer nos jovens talentos, o que eu espero que possa ser um trabalho também para a Seleção”.
Decidir a Superliga em Pernambuco
Nascido em Olinda, Paulo Coco surgiu como levantador em Pernambuco, mas saiu do estado para se profissionalizar e fez quase toda a carreira no Sudeste, além de uma passagem pela Espanha. Agora, pela 1ª vez, ele lutará pelo título da Superliga na sua terra natal, justamente um ano depois de ser campeão do Sul-Americano no mesmo ginásio Geraldão, enquanto auxiliar de José Roberto Guimarães na Seleção Feminina.
“É muito orgulho e um mais tempero especial estar jogando aqui no Recife. Eu sou pernambucano, nasci em Olinda, e ter a possibilidade de chegar, curtir esse momento com familiares e amigos próximos assistindo, não tenho palavras. É aproveitar, curtir o momento, esperar que a equipe possa fazer um grande jogo, que possa ser uma grande final para o público pernambucano”.
Ele continuou: “O voleibol pernambucano tem muita tradição e o povo daqui merece, com tanta escassez de esporte de alto nível. É um orgulho e um prazer muito grande estar participando desse momento”. Além de Paulo Coco, Pernambuco tem uma forte escola de treinadores, com nomes como Josenildo Carvalho, Nilton Vasconcelos e Murilo Amazonas, apontados entre os principais da história do vôlei brasileiro. Ídolos como Jaqueline, Dani Lins, Marcelo Negrão e Pampa também são do estado.