Perfil

O Velho Lobo Zagallo: conhecendo o único tetracampeão mundial

<p>Foto: Arquivo Pessoal de Zagallo</p>

Foto: Arquivo Pessoal de Zagallo

O Velho Lobo é um dos maiores nomes da história do futebol brasileiro, campeão da Copa do Mundo como jogador e treinador

Mário Jorge Lobo Zagallo, o Velho Lobo. Um dos maiores nomes já existentes no futebol brasileiro, com diversos títulos e uma enorme contribuição para o país. Campeão como jogador. Campeão como técnico. Todas as reverências possíveis ainda serão poucas para ele.

Como jogador, ele conquistou a Copa do Mundo duas vezes. Como treinador, conquistou uma vez. Inclusive, ainda fez parte da comissão técnica do tetra, em 1994, como coordenador técnico. Único tetracampeão mundial. Ampliando essa relação, ele também comandou o Brasil em outros dois mundiais.

Zagallo possui um legado imenso e sua história se confunde com a do futebol brasileiro.

Zagallo foi bicampeão do mundo jogando ao lado de Pelé, e comandou o Rei do Futebol na Copa de 1970. Foto: Reprodução/Fifa

Quem foi Zagallo?

Zagallo foi ponta-esquerda, técnico e coordenador técnico de futebol. Atuando no esporte de 1948 até 2006. Foram 58 anos de vida dedicados ao futebol, onde se tornou uma verdadeira lenda.

Ainda bebê, ele e sua família se mudaram para o Rio de Janeiro. Ele iniciou sua carreira pelo América-RJ, clube do qual seu pai era torcedor e passou essa paixão para o filho. Ele jogou pelas categorias de base do clube e por lá estreou.

Em 1950, o caminho de Zagallo e da Seleção Brasileira se cruzaram pela primeira vez. Mas não foi nos campos. Na verdade, ele era integrante da Polícia do Exército e foi escalado para trabalhar na segurança da final da Copa do Mundo de 1950.

Presente nas arquibancadas, o então “jovem Lobo” acompanhou a dolorosa perda do título para o Uruguai, no Maracanã, que se tornou o “Maracanazo”.

Talvez ele, naquela época, nem imaginasse que, oito anos depois, estaria na conquista do primeiro título mundial do Brasil.

Zagallo, quando defendia a Seleção Brasileira como jogador

O Velho Lobo foi um ponta-esquerda moderno, responsável por protagonizar em campo uma das revoluções táticas do futebol. Foto: Arquivo Pessoal de Zagallo

Foram duas copas conquistadas atuando como ponta-esquerda. Mas Zagallo foi além, sendo também um jogador que revolucionou a posição onde atuava. Essa mudança tática foi um dos primeiros precussores do 4-3-3, que predomina até hoje.

Zagallo era um jogador bastante técnico e de grande compreensão tática. Ele atuava na ponta esquerda quando o Brasil tinha a bola, no tradicional 4-2-4, mas recuava quando a Seleção não tinha a posse.

Com isso, ele se tornava um meio de campo, dando maior vantagem numérica ao setor, que encontrava três atletas da Amarelinha contra dois dos rivais. Ele também ajudava bastante a marcação pelo lado esquerdo, dobrando a marcação junto ao lateral.

Essa é uma das revoluções táticas que são documentadas até hoje, como parte da história do futebol mundial. 

Zagallo, como treinador, segurando uma bola em sua mão direita

O alagoano também foi ídolo como treinador, principalmente no futebol carioca. Foto: Arquivo Pessoal de Zagallo

Por clubes, o Velho Lobo marcou história também. Além do América-RJ, defendeu Flamengo e Botafogo, sendo destaque e conquistando diversos títulos nos dois clubes. Também fez parte de excursões ao exterior pelo Fla e pelo Bota, algo comum para diversos clubes naquela época.

Ele pendurou as chuteiras em 1965, se tornando treinador do juvenil do Fogão. No ano seguinte, assumiu o time principal do Botafogo e também levantou vários títulos. Entre eles, a conquista da Taça Brasil de 1968, o primeiro título nacional do clube.

Em 1970, poucos meses antes da Copa do Mundo, assumiu o comando da Seleção Brasileira após a demissão do técnico João Saldanha. Mesmo com pouco tempo, conduziu o Brasil ao tricampeonato com um futebol envolvente, que marcou gerações com um jogo bonito.

O Velho Lobo também comandou a Canarinho nas Copas do Mundo de 1974 e 1998. Na primeira, a Seleção terminou no 4º lugar, e a outra foi vice-campeão.

O comandante alagoano também treinou Flamengo, Botafogo, Vasco, Fluminense, Bangu-RJ, Portuguesa-SP, Al Hilal-ARA, além das seleções da Arábia Saudita, Kwait e Emirados Árabes Unidos.

Zagallo, ao lado do capitão Carlos Alberto Torres, quando a Seleção Brasileira retornou ao país após a conquista da Copa do Mundo de 1970

Zagallo, ao lado do capitão Carlos Alberto Torres, quando a Seleção Brasileira retornou ao país após a conquista da Copa do Mundo de 1970. Foto: Arquivo Nacional

Ele também foi coordenador técnico em duas oportunidades na Seleção Brasileira. A primeira em 1994, ao lado de Carlos Alberto Parreira, com quem possui uma bela relação. Depois da saída do amigo, na conquista do título, assumiu o comando da Amarelinha.

Depois, retornou no ciclo para a Copa do Mundo de 2006, também como coordenador técnico. Porém, aquela Seleção, que encantou durante o período pré-Copa, não teve o mesmo encanto e desapontou no Mundial. Ali foi o último capítulo de Zagallo dentro da Seleção Brasileira.

Infelizmente, o Velho Lobo nos deixou no dia 6 de janeiro de 2024, vítima de falência múltipla dos órgãos, por conta do seu estado de saúde fragilizado nos últimos anos. Ele tinha 92 anos e deixou em luto todo o futebol brasileiro e mundial.

Carlos Alberto Parreira e Zagallo

Parreira e Zagallo formaram uma forte amizade pelos anos de trabalho na Seleção Brasileira. Foto: Arquivo Pessoal de Zagallo

Zagallo: “Vocês vão ter que me engolir”

Num percurso bastante atribulado até o mundial da França, onde o Brasil terminou no vice-campeonato, houve uma frase que ficou bastante marcada: “Vocês vão ter que me engolir”.

O desabafo de Zagallo foi proferido após a conquista da Copa América de 1997, onde a pressão pela troca no comando técnico era grande. Não só por parte dos torcedores, mas também pela imprensa, que tinha Vanderlei Luxemburgo como seu preferido.

Na entrevista pós-jogo, ainda na euforia, o Velho Lobo falou que os críticos teriam que o engolir. O discurso, naquele momento, teve dois “alvos” específicos. Os jornalistas Juca Kfouri e Juarez Soares.

O Velho Lobo seguiu na Seleção Brasileira, na campanha do Mundial de 1998. A expectativa do pentacampeonato, àquela altura, era grande. Mas o doloroso 3 x 0 para a França, na final, pôs um ponto final na passagem de Zagallo como treinador da Canarinho.

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Quais Copas do Mundo Zagallo ganhou?

Como jogador, Zagallo ganhou as Copas do Mundo de 1958 e 1962. Como treinador, ele conquistou o Mundial de 1970, encantando o mundo todo com a maior seleção da história do futebol. Uma das três únicas pessoas a alcançar esse feito na história.

Mas Zagallo é tetracampeão de Copas do Mundo. O quarto título veio com o tetra do Brasil, em 1994, quando ele era coordenador técnico da Amarelinha. Números que mostram a dimensão do Velho Lobo para o futebol.

Curiosidades sobre Zagallo

Em 2013, ele foi eleito o 9º maior treinador da história do futebol, em votação realizada pela revista World Soccer. Em 2020, pela revista FourFourTwo, o Velho Lobo foi eleito o 27º melhor técnico da história.

Muito supersticioso, Zagallo teve o número 13 como seu número preferido. Tanto que isso começou porque sua falecida esposa era devota de Santo Antônio, que tem seu dia comemorado em 13 de junho. E ele se casou com dona Alcina num dia 13, em janeiro de 1955.

Além disso, várias coincidências faziam referência ao número 13, ao qual o Velho Lobo tanto se apegava. Por exemplo, quando foi bicampeão mundial em 1962, ele completava 13 anos como jogador profissional.

Em 1970, somando as partidas como atleta com as de técnico, ele fez seu 13º jogo em Mundiais. Nos outros anos em que ganhou Copa do Mundo, 1958 e 1994, os dois últimos números de cada ano, se somados, dão 13 (5 +8 e 9 + 4).

A superstição fez parte da vida de Zagallo, que teve no número da sorte, um apego muito grande. Quem sabe essas coincidências estavam realmente interligadas de algum modo que só ele sentia. Não dá para duvidar. O Velho Lobo tem essa moral.

Zagallo utilizando o número 13 nas costa. Seu número favorito

Com o número 13 nas costas, o Velho Lobo. Foto: Arquivo Pessoal de Zagallo