Automobilismo
“Cada conquista é histórica”: Mulheres mostram resultados e buscam mais espaço no automobilismo
Ano foi marcado por 1ª pole e 1º pódio feminino na história da F4 Brasil
O automobilismo sempre foi visto como um espaço masculino, mas isso está mudando. No Brasil, novas caras – ou melhor, novas garotas – vêm conseguindo aparecer nas principais disputas, buscar resultados e sonhar com a profissionalização no automobilismo. Mas uma coisa liga todas: a certeza de que isso está só começando.
Após anos correndo de fórmula na Europa, Bruna Tomaselli voltou ao Brasil para correr na Stock Series, sonhando com uma vaga na Stock Car. Iniciando suas jornadas em fórmula, Rafa Ferreira e Cecília Rabelo conseguiram o 1º pódio e a 1ª pole femininas da história da F4 Brasil, respectivamente, sonhando em seguir os passos de Aurelia Nobels, que acaba de ser anunciada na F1 Academy.
As mulheres no automobilismo
Bruna, Rafa e Cecília conversaram com o Click Esportivo e foram unânimes ao verem as portas do automobilismo se abrindo. “O mundo, durante muito tempo, fez o automobilismo parecer um esporte muito masculino e só agora, de uns anos para cá, é que as meninas têm começado a aparecer, a entender que a gente também consegue estar entrando, brigando junto aos meninos”, disse a catarinense Rafa Ferreira, que foi ao pódio na última etapa da F4 Brasil, no último sábado (16).
Cecília Rabelo, que conseguiu uma inédita pole position em outubro, reforçou que a baixa presença de mulheres nas competições ao longo dos anos faz com que toda conquista seja inédita. “Existem poucas mulheres nesse meio ainda. A gente está começando a ingressar agora, e cada vez mais. Então, cada conquista que a gente faz é um momento histórico, porque é sempre a 1ª vez. Eu fui a 1ª mulher a fazer pole no mundo (em F4) e isso vai ficar marcado”.
Oitava colocada na temporada da Stock Series e com rodagem internacional, Bruna Tomaselli lembrou que a ausência de mulheres no automobilismo é uma questão de oportunidade, não se habilidade. “Isso sempre aconteceu. Quanto à habilidade, a gente sempre teve, lá dentro todo mundo é piloto, não importa se é homem ou mulher. Então, eu acho que se a gente tivesse mais mulheres competindo, a gente iria ver cada vez mais pódios, mais poles”.
Além desse trio, as referências femininas no automobilismo brasileiro são raras. O principal nome é Bia Figueiredo, que competiu por quatro anos na Indy e foi a 1ª mulher a vencer na Indy Lights (atual Indy NXT), em 2008, e a correr na Stock Car, em 2014. Hoje, ela compete na Copa Truck, assim como Débora Rodrigues. Além delas, entre as grandes categorias, também há Suzane Carvalho, ex-Indy Lights e F3.
Agora, com mais nomes conseguindo destaque, as conquistas podem servir de inspiração, como apontou Rafa Ferreira. “Acredito que pódio, pole, conquistar campeonato vai ser algo mais frequente daqui para frente a gente ver mulheres conquistando. E espero que o meu pódio tenha servido de inspiração para outras meninas da próxima geração, do kart, para elas verem que também podem vir, lutar, conquistar pódios de igual para igual com os meninos”.
Também otimista sobre o futuro, Cecília Rabelo endossou. “Eu acredito que, agora, cada vez mais mulheres vão ingressar nesse meio. Várias de nós já estamos e isso acaba incentivando e encorajando várias meninas a entrar também”.
F1 Academy
Na história da Fórmula 1, apenas cinco mulheres participaram de corridas, o que não acontece desde 1992. Para encerrar o vácuo de 21 anos, a FIA estreou em 2023 uma nova categoria de base destinada à entrada das jovens nos mais altos degraus do automobilismo: a F1 Academy, que teve sua 1ª brasileira confirmada nesta quinta (21), com Aurelia Nobels, da academia da Ferrari, no grid de 2024.
A F1 Academy surgiu após a descontinuação da W Series, que foi disputada entre 2019 e 2022, em outro formato também exclusivamente feminino. Nas duas últimas temporadas, o Brasil foi representado por Bruna Tomaselli, que comentou sobre esse novo caminho para as meninas chegarem às grandes categorias.
“A F1 Academy é um bom caminho para quem tem condições, claro, e para quem tem isso como um objetivo de estar na Europa, estar competindo em fórmula, chegar a alguma categoria de topo, até a Fórmula 1. Para as meninas que estão começando agora, acho que esse é o caminho mais certo a seguir“.
Na temporada inicial da F1 Academy, o título ficou com a espanhola Marta García, que ganhou uma bolsa integral para disputar a Fórmula Regional Europeia (Freca) na próxima temporada. A partir de 2024, a F1 Academy se torna categoria de suporte, sendo disputada nos fins de semana da Fórmula 1, e contará com apoio direto das 10 equipes da categoria principal.
Os planos para o futuro
Rafa Ferreira também comemorou o trabalho para ampliar a presença de mulheres nas pistas. “É bem legal ver todo o apoio da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) e da FIA, todos trabalhando para ter mais meninas no automobilismo”. Ainda assim, questionada sobre os objetivos, a jovem de 18 anos focou no curto prazo. “Meu objetivo é, no ano que vem, fazer uma temporada em que eu possa ser melhor, buscar lutar por vitórias e pelo campeonato”.
Cecília Rabelo seguiu a mesma linha, comemorando os resultados de 2023 e focando m uma temporada melhor em 2024. “A gente estava com um foco em adquirir experiência, conhecer mais sobre o carro, treinar mesmo, ganhar conhecimento. Já para 2024, a gente espera vir mais forte, brigar por pontos, pódios, quem sabe chegar a liderar. A gente está com foco em ter um resultado melhor. Nesse ano foi experiência, pensando em ajudar no próximo ano”.
Mas a mineira de 15 anos também se permitiu sonhar mais longe. “O meu sonho, lógico, é subir cada vez mais de categoria. Mas eu quero seguir carreira no automobilismo. Não importa em qual categoria eu esteja, se eu estiver dirigindo, eu vou estar feliz e vou estar seguindo o meu sonho”.
Bruna Tomaselli
Mas se Rafa e Cecília vivem o começo de uma carreira em carros de fórmula e sonham com voos mais altos, Bruna Tomaselli já é uma referência próxima no automobilismo para elas. A paranaense de 26 anos passou várias temporadas em carros de fórmula entre América do Sul, Europa, Estados Unidos e Ásia. Agora, ela retornou ao Brasil e encerrou sua 1ª temporada em carros de turismo, na Stock Series. Ela comentou sobre essa adaptação.
“Não tem muita adaptação ao país, porque corrida é corrida. Mas tive que me adaptar ao carro, sim, porque sempre corri de fórmula e em um carro de turismo é um pouco diferente a pilotagem. Mas consegui me adaptar bem desde a 1ª etapa, claro que aprendendo sempre, em todas as corridas. Mas acho que consegui ter uma adaptação bem rápida”.
Assim, ela explicou o que muda entre essas categorias. “A diferença acho que é o jeito de pilotar. O carro de turismo é mais pesado e a pilotagem muda um pouco. O estilo da corrida também é diferente. Em fórmula, são os quatro pneus que separam, mas aqui no turismo, é o carro. Então, acontecem algumas encostadas a mais do que em fórmula”.
Nessa 1ª temporada na categoria de acesso à Stock Car, Bruna teve uma boa reta final de campeonato e terminou na 8ª colocação, sendo a melhor mulher no torneio e se destacando entre os estreantes. Olhando para o futuro, ela também projetou o que espera para sua carreira. “Agora, estando na Stock Series, o objetivo é um dia chegar na Stock Car principal, poder correr profissionalmente, viver disso”.