Opinião

As mudanças no tabuleiro sobre as transmissões dos Estaduais no Nordeste em 2024

<p>Foto: divulgação</p>

Foto: divulgação

A afiliada da Globo no Ceará, a TV Verdes Mares, confirmou o contrato para a próxima temporada. Neste texto, veja mais detalhes

O mercado do futebol nordestino foi surpreendido neste fim de ano com uma grande mudança em relação à transmissão na tevê. Em 27 de novembro, a federação cearense confirmou que a TV Verdes Mares, a afiliada da Rede Globo no estado, vai exibir o “Manjadinho”, como o campeonato estadual foi apelidado, em 2024, 2025 e 2026. Esse contrato por três nos se sobrepõe ao acordo anterior, com os direitos pertenciam à TV Cidade, a afiliada da Record.

A emissora anterior havia assinado com a FCF em dezembro de 2022, adquirido os direitos sobre as edições da competição em 2023, 2024 e 2025. Portanto, ainda restavam dois campeonatos. A sua indefinição sobre a continuidade, devido aos custos de operação, acabou abrindo espaço para a concorrência, que não titubeou em recuperar o Estadual. Por sinal, o Sistema Verdes Mares chegou a exibir o Campeonato Cearense por 15 anos consecutivos, de 2006 a 2020.

Era a casa do futebol cearense até a debandada da Rede Globo sobre os certames estaduais de todo o país – e aqui falo da linha adotada da rede nacional mesmo. Outrora dominante, o canal da família Marinho passou por um enfraquecimento do portfólio em 2021, deixando de renovar com o Carioca e o Paulistão, as suas vitrines para anunciantes. Ambos os torneios foram para a Record. Em 2023, a Band assumiu o campeonato do Rio de Janeiro, com a emissora liderada pelo bispo Edir Macedo mantendo os direitos do principais campeonato estadual, o de São Paulo, até 2025.

Indício de uma retomada geral da Globo?

Embora tenha continuado com o Gaúcho e o Mineiro, considerando os quatro principais campeonatos, os jogos transmitidos passaram a ser, basicamente, no fim de semana. Isso porque a grade eliminou o horário nobre da quarta-feira, já que não havia mais times do eixo Rio-SP envolvidos. E assim ainda segue para 2024, com a tarde de sábado sendo o único horário garantido para o Campeonato Cearense. A Globo só voltará com os jogos depois da novela das 9 a partir da presença dos times “nacionais”, na visão dela, na Copa do Brasil e da Libertadores. O horário deverá ser fixado de vez em abril, com o início do Brasileirão.

Pois bem, voltando a analisar o Nordeste, a Rede Globo agora passa a ter dois campeonatos estaduais no seu guarda-chuva, já que o Campeonato Pernambucano já havia sido renovado por mais uma temporada, com a parceria com a federação local chegando a 25 anos. É uma ação necessária para não perder completamente o terreno, já que o Campeonato Baiano, que poderá ter dois clubes na próxima Série A, segue na TVE, uma emissora pública do estado, e a Copa do Nordeste segue na programação das afiliadas do SBT na região, com contrato válido até 2025. Ou seja, ter apenas o torneio de PE durante cinco anos, entre 2021 a 2025, seria algo bem problemático num visão sobre o mercado interno do NE, creio.

Aumento da exposição via concorrência das bets

Curiosamente, o Cearense e o Pernambucano terão a mesma formatação sobre as transmissões na próxima temporada, com a Globo na tevê aberta, com sinal liberado dentro dos respectivos estados, e o canal GOAT no streaming. Neste caso do GOAT, um perfil no YouTube criado em 2019, com mais de um milhão de inscritos, o modelo de negócios preza pela exibição gratuita. Parto daqui para outro entendimento desta movimentação. Seria um enfraquecimento do pay-per-view? Não necessariamente, até porque isso é algo que ninguém cogita na Série A, por exemplo.

Contudo, em mercado (estados) mais enxutos a receita gerada pela venda de pacotes pode não ser suficiente para se equiparar ao volume de publicidade gerada pela enorme concorrência das casas de apostas esportivas na atualidade, baseadas na lei federal 13.756/18. Já é assim nos uniformes dos grandes clubes, nas placas publicitárias no entorno dos gramados de Norte a Sul e naturalmente nas inserções comerciais na tevê, seja qual for o canal. Logo, os jogos precisam ser “vistos” por uma parcela muito maior que uma base de assinantes para justificar o investimento numa transmissão “liberada”.

Isso é apenas uma reflexão sobre a chegada de um novo “player”, a palavra que os executivos adoram, e a volta do Manjadinho à Globo, numa contradição a quem “abriu mão” dos Estaduais há poucos anos. Afinal, num recorte anterior a 2018, nenhum canal do YouTube teria condições de bancar uma transmissão desta forma. Nota-se que o cenário nordestino está passando por uma metamorfose, mesmo tendo como alvo um recorte de apenas 13 datas do calendário nacional, de janeiro a abril.