Opinião

Por uma Copa do Brasil com mais de 500 clubes. Exagero? Pois ainda seria enxuta

<p>O troféu da Copa do Brasil. Foto: CBF/divulgação</p>

O troféu da Copa do Brasil. Foto: CBF/divulgação

Hoje, a Copa do Brasil só tem a participação de 10% dos clubes em atividade no país. Na Inglaterra e na França, as copas são bem maiores, justificando a ideia de inclusão

A Copa do Brasil foi criada pela CBF em 1989, contemplando todos os estados com clubes profissionais na época. No caso, eram 22 estados. O objetivo foi promover uma disputa nacional realmente integrada, já que o Campeonato Brasileiro havia instituído o sistema de acesso e rebaixamento em 1988, dificultando bastante a presença de times de estados com o futebol menos desenvolvido. Até 1986, lembrando, a participação na primeira divisão era gerada pelos campeonatos estaduais, que passaram a classificar para a copa nacional. Pois bem, foram 32 times na edição pioneira da Copa do Brasil, com a conquista do Grêmio diante do Sport, no antigo estádio Olímpico. O torneio evoluiu bastante até chegar na configuração atual, com 92 participantes e R$ 448 milhões em premiações, numa divisão por mérito envolvendo todos – campeão, o São Paulo levou R$ 91 milhões. E a última mudança foi justamente em 2023, na regra para a obtenção de vagas na Copa do Brasil.

O Ranking da CBF, que antes ofertava dez vagas por ano, deixou de ser critério oficial, aumentando a importância dos torneios estaduais, além dos representantes na Libertadores e dos campeões da Copa do Nordeste, Copa Verde e Série B. Com isso, chamou a atenção o enorme risco do Santos para disputar a copa nacional em 2024. Após a péssima campanha no Paulistão desta temporada, ficando em 12º lugar, o Peixe passou a lutar contra o rebaixamento na Série A, ficando longe do 9º lugar, o “ponto de corte” para a vaga.

No início de novembro, alguns veículos de imprensa chegaram a abordar o fim da chance do Santos de ir à Copa do Brasil. Afinal, seria um dos times mais tradicionais do mundo ficando ausente logo no início da regra. Entretanto, as publicações foram excluídas após a correção do perfil não oficial “Ranking CBF”, especializado em acompanhar as posições dos clubes. De toda forma, era quase uma questão de semântica, já que as chances seguiam remotas. Independentemente do desfecho, após a 38ª rodada do Brasileirão, vale a reflexão sobre a atual formatação da Copa do Brasil, que permite a possibilidade de não ter todos os 20 clubes da primeira divisão, por exemplo. Antes de seguir neste ponto, é preciso contextualizar com as principais copas de outros países.

Todos os profissionais jogam na Inglaterra

Começo pela Copa da Inglaterra, a “FA Cup”, que é simplesmente a competição oficial mais antiga do futebol. A primeira edição aconteceu na temporada 1871/1872, com apenas 15 clubes. Hoje, já com 142 torneios realizados, a Copa da Inglaterra conta com 732 times, incluindo os 92 clubes profissionais das quatro principais divisões inglesas, e mais 640 times semiamadores de divisões mais profundas. Por sinal, a “pirâmide” do campeonato nacional chega até a 20ª divisão, com disputas já regionalizadas.

Portanto, a participação na FA Cup é basicamente atrelada à atividade regular, com os times das últimas divisões tendo outras copas nacionais no calendário. Obviamente, a copa inglesa tem diversas janelas de entradas para os clubes maiores, com os nomes da Premier competindo só a na reta final, com o torneio tendo apenas 64 participantes (ou 32 avos de final).

O exemplo colossal da França

Se o número acima de 700 surpreendeu, saiba que há uma versão muito maior. Basicamente, dez vezes maior! Na temporada 2022/2023, a Copa da França teve 7.292 times inscritos. É até difícil de acreditar, mas o número da “Coupe de France” é esse mesmo. Entram na briga pelo título todos os clubes profissionais, todos os semiamadores e os amadores federados também. Até mesmo times de territórios fora da Europa, como Guiana Francesa, Martinica e Nova Caledônia, que é um arquipélago próximo à Austrália.

É óbvio que não é preciso ir bem no Campeonato Francês ou mesmo num torneio regional para firmar a presença na Copa da França, cuja primeira final foi em 1918. O propósito dela é, realmente, juntar todos os times num mata-mata que unifique a modalidade. Parece lógico, mas não é assim no Brasil. Voltando ao cerne, então, é até difícil entender como um país do tamanho do nosso, com 207 milhões de habitantes e tendo o futebol como esporte número 1, promove uma copa anual com menos de 100 clubes.

Número de clubes vem aumentando no Brasil

De acordo com a Diretoria de Registro, Transferência e Licenciamento da CBF, existem 850 clubes profissionais e 426 amadores no Brasil, totalizando 1.276. Esta é a última atualização feita pela entidade, válida por 2022 e divulgada em 28 de abril. Quantos desses clubes encerram as suas atividades após os 27 campeonatos estaduais? Ponto alto da temporada, o Campeonato Brasileiro, considerando as quatro séries, abarca apenas 124 clubes, com uma outra fatia dos clubes ficando restrita a competições locais secundárias, como a Taça Fares Lopes (CE) e a Copa Paulista (SP). Logo, não é abrangente.

Ainda assim, o número de times brasileiros vem até aumentando, já que foram 946 times em 2020 e 1.072 em 2021. No último balanço, de 2021 para 2022, foram 204 registros. Ainda que o recorte foque apenas nos times profissionais, e não nos exemplos de Inglaterra e França, a Copa do Brasil só conta com 10,8% dos clubes em atividade. Um outro dado mostra essa bizarrice. São Paulo é o estado com mais times profissionais, com 105 inscritos atualmente. Trata-se de uma quantidade superior à Copa do Brasil. Sobre a competição organizada pela CBF, foi anunciada neste ano a renovação no contrato de transmissão na televisão, com a Rede Globo seguindo com os direitos de todas as plataformas até 2026. Numa relação antiga com a CBF, causa estranheza ver a própria emissora não cobrar uma presença maior por algo tão caro.

Uma data a mais e o aumento exponencial

Que o calendário vigente para os grandes clubes é apertado, não resta dúvida, mas por qual motivo a Copa do Brasil não pode começar mais cedo? As duas primeiras fases já são realizadas em jogos únicos. Uma data a mais, com o mesmo formato, já resultaria num aumento de 80 para 160 times. Com duas datas a mais a largada já teria 320 times, e o aumento seria assim por diante. Com todos esses times num período de plena atividade no primeiro semestre, com os times das Séries A, B e C, que não dependem do Estadual, tendo vaga certa, como em quase todas grandes ligas. É preciso pontuar que a direção da Confederação Brasileira de Futebol não deu qualquer indicativo sobre uma ampliação, mas a minha impressão, e acho que esse texto já deixou claro, é que aquela ideia de integração estabelecida lá em 1989 ainda está longe do seu potencial e da sua real finalidade. E o que você acha?