Opinião
Com receita acima de R$ 1,5 bilhão, Brasileirão de 2024 será o último antes das “ligas”
O contrato atual dos clubes com a Rede Globo vai até 2024, com a nova negociação tendo elementos que deixam o futuro incerto. Afinal, será com ou sem uma liga de fato?
A última rodada do Brasileirão de 2023 consagrou o Palmeiras como campeão, embora tenha só reafirmado algo que parecia evidente desde a penúltima rodada. A verdadeira disputa foi para evitar o último lugar na zona de rebaixamento, que já tinha Coritiba, Goiás e América-MG. Numa noite tensa, na qual três concorrentes chegaram a figurar em algum momento no Z4, o desfecho foi com Vasco e Bahia salvos. Sobrou para o Santos, que caiu de divisão pela primeira vez na sua rica história. Aquele giro em 6 de dezembro serviu também para completar a listar de participantes na Série A de 2024.
Entre outras nuances, a próxima edição terá a presença de 13 dos 17 campeões brasileiros e três representantes do Nordeste, com o Ba-Vi na tabela após seis anos. Entretanto, a próxima temporada também vai marcar o último ano do atual contrato de transmissão com a Rede Globo. E isso pode ser o primeiro passo para o entendimento de uma transformação a caminho – por enquanto, não necessariamente positiva.
Divisão de cotas deve mudar no Brasileirão
O acordo vigente com a emissora foi assinado por seis edições, de 2019 a 2024, valendo para as transmissões na tevê aberta, na Globo, e na tevê por assinatura, no SporTV. A única exceção foi o Atlético-PR, que topou apenas o pacote de tevê aberta. Este contrato robusto partiu de um investimento anual de R$ 1,1 bilhão – sem contar o pay-per-view, já que os jogos no Premiere integram outro contrato. A cada ano o valor é reajustado através de um índice econômico escolhido pelo canal e pelos clubes durante a negociação. No caso, vale a média do IGP-M e IPCA do ano anterior ao campeonato em que a distribuição é feita.
Assim, o aumento da receita de transmissão do Brasileirão foi de aproximadamente 45% nos últimos quatro anos. Ou seja, o bolo de 2023 foi de R$ 1,59 bilhão, com a divisão acontecendo da seguinte forma: 40% em cotas igualitárias, 30% pelo número de jogos exibidos nos dois canais e 30% pela classificação final – neste último, os quatro rebaixados não recebem nada. A tendência é que esses percentuais sejam reajustados a partir de 2025, com 45% de forma igualitária aos 20 participantes, 30% por performance e 25% em “apelo comercial”, uma nova forma de abordar a transmissão e o engajamento de cada time.
Longevidade da Premier League é o exemplo
Entretanto, resta saber o destino desta negociação com a televisão. Após a era do Clube dos 13, cujo bloco durou de 1987 até 2011, vieram as negociações individuais na década passado, turbinando Flamengo e Corinthians, e o princípio de reorganização das receitar num critério à parte da subjetividade/influência. Agora deveria ser a era da liga nacional, um desejo antigo. Esse bonde da história já passou algumas vezes no Brasil, sendo o primeiro com o próprio Clube dos 13, que acabou queimando a largada ao montar uma disputa elitista e frágil juridicamente. A última decisão judicial sobre 1987, com o STF mantendo só o Sport como campeão, curiosamente saiu no dia da 38ª rodada rodada de 2023.
Só que também é justo dizer que a comercialização daquele primeiro momento, apenas em um dos módulos da competição, mostrou o potencial econômico do Brasileirão. Poderia ter sido uma das primeiras ligas do mundo. Na Inglaterra, por exemplo, a famosa Premier League surgiu só 1992, com a entidade passando a organizar a primeira divisão, que já era realizada desde a temporada 1888-89! Hoje, é indiscutivelmente o maior campeonato nacional de futebol. Inclusive, a Premier League acabou de firmar o maior contrato de transmissão de sua história, com 6,7 bilhões de libras de 2025-26 até 2028-29. Voltando ao cenário brasileiro, a nova negociação dificilmente irá caminhar de forma uniforme, já que atualmente existem duas ligas à frente do processo. Ambas fundadas em 2022. No caso, a Libra, com clubes como Flamengo, Corinthians, Bahia e Vitória, e a Forte União (ex-Forte Futebol), com Fluminense, Internacional e Fortaleza, para citar nomes presentes na próxima Série A.
Novas ligas ou novos blocos comerciais?
Pela lei brasileira, cada clube tem 100% dos direitos de transmissão dos seus jogos como mandante. No formato de pontos corridos, então, cada clube tem os direitos sobre 19 jogos. Tomando como exemplo uma partida como Flamengo x Fortaleza, o Fla poderia comercializar os direitos no Maracanã e o Fortaleza faria o mesmo no Castelão. Sendo assim, cada “liga” irá vender futuramente o seu pacote para a emissora que quiser e pelo período que quiser. Em 2024, por exemplo, a Libra tem 12 clubes. Isso daria 228 jogos, ou 60% da tabela. Já a Forte União tem 8 clubes. Isso daria 152 jogos, ou 40%.
A Forte União, aliás, já assinou um contrato de investimentos, com um aporte de R$ 2,6 bilhões nos próximos 18 meses. Em troca, os filiados vão ceder 20% dos seus direitos comerciais no Brasileirão por 50 anos. Caso este negócio siga adiante e caso a Libra não faça algo parecido, como imaginar a unificação? Até porque é preciso destacar que se o futebol brasileiro seguir dividido por duas ligas, elas serão na prática apenas blocos comerciais. Assim, a CBF continuaria à frente da organização das Séries A e B – mesmo com duas ligas, todos os times competiriam no mesmo torneio. A mudança no controle da competição só pode acontecer, legalmente, com uma liga verdadeiramente nacional. Em 2024 teremos um campeonato sobre conceitos bastante conhecidos. A partir de 2025, nota-se uma indefinição considerável…