Estaduais
Campeonatos Estaduais: A Alma do Futebol Regional em Ebulição
Os campeonatos estaduais representam forte tradição do futebol brasileiro e têm origens diretamente ligadas à vasta dimensão territorial do Brasil.
A grande distância entre os estados impossibilitava a criação de uma competição nacional, mas o desejo de competitividade dos clubes propiciou o surgimento dos torneios locais.
O primeiro campeonato estadual do Brasil foi o Campeonato Paulista, reconhecido em 1902. A edição inicial contou com apenas cinco times e teve como vencedor o São Paulo Athletic.
E não demorou muito para que outros estados brasileiros quisessem ter sua própria competição também. O Campeonato Baiano surgiu em 1905, por exemplo. No ano seguinte, foi a vez do Carioca iniciar suas atividades.
Assim, pouco a pouco, as disputas estaduais foram se espalhando pelo país. O último estado a organizar seu torneio local foi Roraima, em 1945.
Paixão e rivalidade regional
O futebol brasileiro é um dos poucos que ainda possui campeonatos estaduais dentro do seu calendário.
Por décadas, os estaduais representaram as competições mais relevantes Brasil afora.
Naquela época, as equipes geralmente eram formadas por jogadores amadores que possuíam uma ligação muito próxima com os clubes que defendiam.
A identificação acalorada dos atletas, inclusive, foi um dos motivos que acentuaram as rivalidades. Porém, obviamente que o componente principal era a proximidade territorial entre as equipes.
Ou seja, quanto mais próximos geograficamente os clubes estavam, maior tendia a ser a rivalidade entre eles. Assim surgiram as relevantes oposições entre as torcidas dos grandes times brasileiros.
Curiosidades e momentos inesquecíveis
Os campeonatos estaduais reúnem uma série de particularidades e dados interessantes. Por exemplo, o único estadual que não utiliza o gentílico oficial de quem nasce no estado é o Rio de Janeiro.
O Campeonato Carioca, via de regra, deveria se chamar Campeonato Fluminense. Porque carioca é quem nasce na cidade do Rio, já fluminense é quem nasce no estado do Rio.
Dentre as estatísticas, destacam-se as seguintes: o clube mais vezes campeão estadual no Brasil é o ABC, com 57 títulos potiguares; o técnico mais vitorioso é Givanildo Oliveira, com 18 conquistas; Quarentinha, do Paysandu, é o recordista isolado de estaduais como jogador, com 12 triunfos; por último, o ex-zagueiro Durval alcançou a façanha de ganhar dez troféus consecutivos por cinco equipes diferentes.
Alguns jogos disputados nos estaduais entraram para a história do futebol brasileiro. Um deles é a final do Paulistão de 1998, quando o São Paulo venceu o Corinthians de virada na partida de volta, com atuação brilhante de Raí.
Outra disputa emblemática ocorreu na decisão do Carioca de 2001, no duelo entre Flamengo e Vasco, vencido pelo Rubro-Negro por 2 a 1, que contou com o inesquecível gol de falta do sérvio Petkovic.
Impacto social e cultural
Seja onde for, os campeonatos estaduais fazem parte da cultura local. É folclore. É o período do ano em que as rivalidades regionais se acirram.
Época em que as cidades se mobilizam para prestigiar as equipes da região. Momento no qual os times menores têm a oportunidade de duelar contras os grandes da capital.
Por mais desprezados que estejam, os estaduais têm seu valor, ainda que não seja financeiro, e ninguém, por mais desinteressado que pareça, quer perdê-lo. Nenhum torcedor quer ser derrotado pelo rival, muito menos vê-lo levantando a taça.
Importância para os times menores
Os times de menor expressão no cenário nacional sobrevivem por meio da existência dos campeonatos estaduais.
Na maioria das vezes, o torneio é a única competição disputada por uma equipe de pequeno porte durante a temporada. É o famoso “ganha-pão” dos clubes, pois, muitas das vezes, é a principal fonte de renda da instituição.
Além disso, os estaduais representam a “chance da vida” dos jogadores que estão nos times menores, pois é o período de maior visibilidade e, consequentemente, de maior probabilidade de transferência para os “maiores” caso alcancem destaque.
Adaptação e desafios atuais
A valorização dos campeonatos estaduais caiu gradativamente mediante a globalização do futebol.
Antigamente, o que mais valia para os clubes eram as bilheterias, e os estaduais conseguiam suprir tal demanda.
No entanto, com as mudanças midiáticas, o futebol passou a ser sustentado financeiramente pelos direitos televisivos e pelas cotas de patrocinadores. E isso fortificou o “grande” e enfraqueceu o “menor”, sejam equipes ou competições.
Dentro dessa perspectiva, as cotas dos estaduais são infinitamente inferiores às dos outros campeonatos. E isso, claro, resulta no desinteresse dos principais clubes do país.
O estrangulamento do calendário faz com que os times priorizem os certames mais lucrativos que ocorrem no primeiro semestre.
Existe um caloroso debate sobre a continuidade dos estaduais na rotina dos grandes clubes brasileiros. As causas disso giram em torno do fator calendário e da pouca atratividade dos campeonatos sob o eixo da lucratividade.
Contudo, os estaduais estão inseridos dentro de um contexto macro do futebol nacional, já que são vias de acesso para a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro da Série D, por exemplo.