Entrevista

Após título da Série B, executivo do Vitória relembra bastidores da conquista e fala sobre seu futuro e de Léo Condé no clube

<p>Ítalo Rodrigues, executivo do Vitória &#8211; Foto: Reprodução/Instagram </p>

Ítalo Rodrigues, executivo do Vitória – Foto: Reprodução/Instagram

Executivo foi responsável pelo pulso firme no futebol Rubro-negro após o início da Segundona

Um dos principais responsáveis pelo título da Série B do Campeonato Brasileiro do Vitória, o executivo de futebol, Ítalo Rodrigues, teve um ano mágico no Leão da Barra. Após passagens por Náutico, Paysandu, CSA e também no Club Tacuary, do Paraguai, foi no Rubro-negro baiano que o diretor teve seu melhor momento da carreira.

Ítalo substituiu Edgard Montemor, desligado após a eliminação do Rubro-negro na Copa do Brasil. Sua chegada serviu para o clube iniciar um processo de reconstrução interna, que serviu de pontapé inicial para o time conquistar seu primeiro título nacional.

Em entrevista exclusiva ao Click Esportivo, o executivo de futebol Ítalo Rodrigues falou sobre a temporada do Vitória, revelou detalhes sobre o planejamento do clube para 2024, inclusive, comentando sobre a situação de renovação do técnico Léo Condé, além de detalhar a situação de peças importantes do elenco, como Léo Gamalho, Lucas Arcanjo e Wagner Leonardo.

Ítalo Rodrigues, executivo do Vitória - Foto: Divulgação

Ítalo Rodrigues, executivo do Vitória – Foto: Divulgação

Click Esportivo – Rolou uma sensação de alívio depois do título, levando em consideração tudo o que Vitória passou em 2023?

Sem dúvida alguma, mas depende muito do campeonato também. Se você vem fazendo um campeonato em sexto lugar, quinto, quarto, entra no G-4, e no final você sobe, isso pode ser considerado um grande título, entendeu. Mas a grande verdade, agora eu posso externar porque a competição acabou, mas o título começou a se tornar de fato uma obrigação, principalmente por ser o primeiro título nacional da história do clube.

Mas se não acontecesse, por mais que tivesse vindo o acesso, que a gente sabia que desde o jogo contra o Sampaio Corrêa, que pra mim, a gente chegou aos 64 pontos, e eu acredito que atualmente o quinto não faça 64, então pra mim aquele foi o jogo do acesso. E a partir daquilo ali, a gente começou a trabalhar muito forte para a conquista do título.

Sabemos da dimensão do Vitória, a gente sabe que um clube se mantém de resultado. É um clube de passado glorioso, mas o passado recente não era tão bom. Então fico muito feliz em poder ajudar nessa reconstrução desse time gigante.

Click Esportivo – Começo de temporada de insucessos: O time acabou sendo eliminado no Campeonato Baiano e na Copa do Nordeste de forma precoce. O que aconteceu naquele momento na sua opinião?

Eu acho que as quedas precoces nunca são por conta de um motivo só. Um clube com a grandeza do Vitória, quando o resultado não vem, muitas vezes virar a chave se torna difícil. Eu não estava no clube no começo de tudo, e até prefiro não comentar muito por respeito aos profissionais que estavam aqui na época. Eles, inclusive, tem seus méritos na conquista que estamos tendo agora. Eu destaco muito Edgard Montemor, que foi meu antecessor e fez um bom trabalho aqui.

Se você pegar o time que jogou contra Sport e Novorizontino, era quase 60% do time que começou a temporada. E o que a gente fez quando mudou a formatação, foi uma readequação de perfil de atleta.

A gente precisava trazer atleta de mais força, que tivessem as características da competição, justamente para casar com os atletas com idades mais avançadas como Léo Gamalho e Osvaldo, por saber que essa junção tecnicamente poderia se sobressair aos demais clubes. Foi tudo sempre muito trabalhado em cima do perfil da competição.

Outro ponto também foi a mudança do João Burse pelo Léo Condé. Principalmente quando se fala de ideia de jogo e metodologia. Eu gosto muito do trabalho de João Burse, ele tem seu mérito também, mas quando se trata de Série B, Léo Condé conhece a competição como poucos.

E a gente sempre escutou muito: “O Vitória não tem nada de mais, o Vitória não sei o que…”. Mas a gente sempre ganhava e pontuava sempre. Então a receita da competição também é essa, lembrando também daquela intertemporada que a gente fez antes da competição. Fez muita diferença.

Click Esportivo – O Vitória iniciou a competição voando, sendo líder, mas depois acabou caindo de rendimento. Naquela época, muitos questionamentos foram feitos, até sobre a continuidade de Léo Condé. Como foi aquele período nebuloso?

Primeiro de tudo, quero ressaltar que o ambiente do futebol é um ambiente de cobrança e pressão. Quem não souber lidar com isso, principalmente exercendo minha função, não vai conseguir trabalhar, muito menos desempenhar bons resultados. Dito isso, a gente se reavalia à todo tempo.

Não só eu. O presidente Fábio Mota, o próprio Léo Condé, e obviamente quando acontece um período de oscilação, com quatro jogos sem vencer, somando com uma reta final complicada onde a gente encarou Novorizontino, Sport e Chapecoense, e sabíamos que eram jogos dificílimos.

O que a gente não faz é deixar que o clube seja gerido de fora para dentro. Levando em consideração que naquele momento o nosso treinador estava sob pressão. A gente não poderia tornar a verdade externa uma verdade interna. Então a partir daí, vieram novos jogos, os resultados voltaram, e a confiança no nosso trabalho e no treinador se manteve firme.

Léo Condé é treinador do Vitória. Foto: Pietro Carpi / EC Vitória

Léo Condé é treinador do Vitória. Foto: Pietro Carpi / EC Vitória

Click Esportivo – Qual a importância do título da Série B com o Vitória para sua carreira como diretor executivo esportivo?

A gente tem uma vida de sacrifício muito grande, e as pessoas não tem dimensão disso às vezes. Esses dias, por exemplo, eu tive que viajar para Recife de madrugada, para poder deixar meu filho com minha mãe, retornei na mesma madrugada para Salvador, porque teria que me apresentar no clube, onde tinha compromissos.

Dormi menos de três horas. E não estou contando isso para chorar pitangas, estou apenas querendo mostrar o lado que ninguém vê. E isso está sendo dito em um momento vitorioso, porque quando você no momento ruim, todo mundo acha que é coitadismo. Mas no final das contas, tudo isso é um preço que a gente escolhe pagar.

Por exemplo, no Náutico, o título da Série C que eu conquistei, foi algo muito significante para mim, porque também foi o primeiro título nacional do clube. E na época, saiu uma reportagem dizendo que eu era o executivo mais jovem a conquistar um título nacional. Mas voltando ao Vitória, era um clube que merecia depois de tantos anos sofrendo, merecia ser coroado. Mas quando chegar em 2024, temos que recomeçar tudo de novo, porque o futebol é isso.

Click Esportivo – Qual foi o momento primordial da campanha? O jogo que mais te marcou, ou alguma situação especifica que foi uma virada de chave na sua opinião?

Acho que o jogo contra o CRB foi muito marcante, aquele que a gente perdeu de 6 x 0. Se a gente tivesse perdido por 1 x 0, 2 x 0, 3 x 1, aquilo teria sido digerido de uma forma normal, uma derrota para um clube que está brigando para subir. E muita gente se perguntou: “O que vocês fizeram depois da goleada?”

Nada. Não fizemos nada, a gente só seguiu com a mesma convicção e seriedade, mas é claro que o ambiente muda, passando a ser de mais dialogo, reforçando sempre que a gente precisava abrir o olho, e logo no jogo seguinte a gente vence em casa. E quando fazemos isso, mostramos para que viemos na competição.

E o outro momento foi o jogo do nosso acesso, contra o Sampaio Corrêa, em São Luís. Todo mundo sabe a dificuldade que é vencer eles lá no Maranhão, e como eu falei, eu tinha convicção de que quando a gente chegasse nos 64 pontos, dificilmente alguém alcançaria a gente.

Click Esportivo – Como era o clima no vestiário? O grupo é bem diversificado, tem jogadores jovens e experientes. Como foi gerir tudo isso?

Nosso ambiente sempre foi muito positivo, mas ao mesmo tempo que foi positivo, sempre foi muito competitivo. Obviamente eu não vou citar exemplos ou detalhar, mas é claro que tivemos os nossos atritos.

Seja eu com comissão, seja comissão com atleta, seja atleta com atleta, porque era um ambiente de cobrança, mas o respeito sempre imperava.

Quando tinha algum atrito entre os atletas no treino, aquilo ali não se transformava algo maior. Justamente por esse ambiente sadio e competitivo, que se perpetuou durante o ano inteiro.

Click Esportivo – O que você tem a dizer sobre a torcida do Vitória? Eles fizeram uma grande festa durante toda a Série B e vinham de momento delicado, após o rebaixamento para a Série C

Eu acho que mais do que na reta final, a torcida foi importante no inicio de tudo. Chegar junto na reta final é fácil, levando em consideração que a gente já tinha uma certa vantagem, uma boa porcentagem de garantir o acesso, mas eles estão com a gente desde a primeira rodada da Série B, naquele jogo contra a Ponte Preta.

Eles receberam a gente com muita festa, desde a chegada do ônibus, fizeram uma festa maravilhosa, cantaram o jogo inteiro. E olhe que a gente estava vindo de eliminações precoces. Então isso daí deu uma energia para a gente iniciar a competição com cinco jogos e cinco vitórias.

Tiveram jogos que a gente fez gol nos minutos finais, muito por conta da força da torcida. Então ela tem sim um papel gigantesco nessa conquista. A gente sempre tenta ressaltar isso e esperamos que no ano que vem, que será um ano muito duro, eles continuem nos apoiando. Então precisamos sempre transmitir esse sentimento para a torcida, para que ela consiga estar sempre emitindo as vibrações que eles transmitiram para a gente durante o ano inteiro.

Jogadores do Vitória comemoram triunfo sobre o CRB — Foto: Victor Ferreira / EC Vitória / Divulgação

Jogadores do Vitória comemoram triunfo sobre o CRB — Foto: Victor Ferreira / EC Vitória / Divulgação

Click Esportivo – Como anda o planejamento do Vitória para o ano que vem? Saídas, chegadas, treinador renova ou não…

Eu sempre digo que o Vitória 2024 começou desde agosto. Se tem um clube que a gente respeita e tenta fazer as coisas de forma profissional, ele se chama Esporte Clube Vitória. Planejamento antecipado, reavaliando os processos e as estruturas, visando sempre melhorar. Mas era óbvio que em agosto a gente trabalhava com dois cenários. Pode ser na Série A, ou pode ser na Série B. Então hoje é só questão de colocar em prática tudo o que a gente já tinha planejado.

Sobre o Léo Condé, eu esperei passar o jogo do Sport para a gente conseguir conversar de uma forma mais efetiva. Mas ele quer ficar, a gente quer que ele fique e ele sabe disso, mas a decisão precisa vir de todas as partes. Tem que ser bom para o Vitória, e precisa ser bom para o Léo também.

Em relação aos atletas, eu nunca falo porque a gente é responsável pelo que a gente fala. Se eu falo uma coisa e ela não acontece, vão querer me cobrar. Obviamente existem sondagens pelos nossos atletas, existem as negociações para renovações, e também tem os novos atletas que queremos trazer. E tudo isso de uma forma natural e com muito profissionalismo. Conforme as situações forem se concretizando, vamos abrindo para vocês da imprensa.

Click Esportivo – Com que margem financeira vocês trabalham para o ano que vem? A gente sabe que na Série A mais investimentos devem chegar, possibilitando negócios mais vantajosos

Eu acho que esse ano, inclusive, dentro da projeção que se tinha, principalmente dentro da janela do meio do ano para o final, a gente não chegou nem a usar o orçamento inteiro. Quando a gente tenta fazer tudo de uma forma mais profissional possível, não adianta gastar por gastar. E pensando no ano que vem, é claro que vamos gastar mais, porque teremos um orçamento mais robusto.

Mas eu bato muito na tecla: “Não é o quanto se gasta, é como se gasta, é com o que se gasta”. Você pega grande clubes aí na Série A, com grandes orçamentos, mas estão aí brigando para não cair. Inter, Cruzeiro, Corinthians, então é como eu falo, não é sobre fazer uma folha de R$ 10 milhões, ou uma de R$ 5 milhões, é como se gasta esse dinheiro, sempre fazendo de uma forma responsável.

Click Esportivo – Na sua opinião, é uma obrigação a conquista do Campeonato Baiano, e da Copa do Nordeste em 2024?

Eu não acredito que seja uma obrigação, e não vou gerar esse discurso. Minha visão sempre será extremamente profissional. Obrigação nossa é saber do tamanho do Vitória, e saber que todo campeonato que ele disputa, disputa com o intuito de ser campeão, e a obrigação nossa é entregar um time competitivo.

Precisamos pensar como fizemos na Série B, sempre indo jogo à jogo, para poder conquistar o título do Campeonato Baiano, chegar nas finais da Copa do Nordeste e ao título, para a gente estar comemorando. Mas nesse primeiro momento não podemos esquecer das dificuldades que o Vitória passou, porém, vamos sim buscar entregar um time competitivo.

Click Esportivo – Ítalo Rodrigues segue no Vitória em 2024? Alguma sondagem aconteceu?

Eu costumo dizer que aqui todo mundo é importante no processo, todo mundo foi importante na conquista. Talvez eu seja apenas uma pessoa que é necessária nos momentos bons e ruins, e são nesses momentos que você começa a se expor, e isso revela o interesse de outros clubes, mas eu desejo, sim, ficar. Eu tenho muito respeito e principalmente gratidão. Eu sou muito grato ao clube, ao presidente Fábio Mota, que me abriram as portas.

E me abriram as portas sabendo que iam levar porrada, principalmente pelo momento que o clube estava vivendo, e se esperava que viesse um Rodrigo Caetano, que é referência para todos os executivos de futebol do Brasil. Mas eu consegui a confiança deles, e realizei meu papel muito bem. Então minha ideia com certeza é ficar. Ainda não chegamos a conversar sobre isso, mas acredito que esse movimento seja algo natural.

Ítalo Rodrigues, executivo do Vitória - Foto: Divulgação

Ítalo Rodrigues, executivo do Vitória – Foto: Divulgação