Executivo do Sport

Executivo da base analisa participação do Sport na Copinha e faz balanço sobre trabalho de Thiago Larghi

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Rafael Fernandes, diretor do Sport – Foto: Divulgação

Com duas vitórias, um empate e uma derrota, o Leão da Ilha foi eliminado pelo Palmeiras na Copinha

Contratado em novembro de 2022, o executivo Rafael Fernandes é um dos responsáveis por coordenar as categorias de base do Sport. Formado em Ciências Humanas e pós-graduado em Gestão Profissional de Futebol, Rafael carrega vasta experiência no cenário esportivo do país.

Aos 41 anos, ele tem no currículo passagens por clubes como Internacional, Figueirense, Ferroviária, ABC, Vila Nova e Juventude, que foi sua última equipe. A chegada do executivo, é visando a continuidade do processo de modernização que a base rubro-negra vem passando.

Em entrevista exclusiva ao Click Esportivo, o executivo analisou tudo que vem sendo realizado no clube, além de fazer um balanço sobre a participação Rubro-negra na Copa São Paulo de Futebol Júnior. Rafael Fernandes também exaltou o trabalho realizado por Thiago Larghi, contratado pelo Leão da Ilha em 2023 para comandar os garotos.

Foto: Tiago Pavão/ Sport Club do Recife

Foto: Tiago Pavão/ Sport Club do Recife

Click Esportivo – Queria que você fizesse um balanço do Sport na Copinha: duas vitórias, um empate e uma derrota. O saldo foi positivo?

Foi uma Copinha bacana. A gente pegou uma sede que era estreante na competição, uma sede nova, e com isso aconteceram alguns imprevistos, como o campo que era muito ruim, qualidade muito complicada, apesar de ser sintético. A gente esperava alguma coisa parecida com o que temos no CT, mas infelizmente não foi isso. Era tipo um carpete, parecendo aqueles de pelada, com muita borracha.

Então isso prejudicou nosso jogo, a bola corria muito, deixava o jogo mais lento também. Então, acaba que se torna mais um jogo de choque, e não conseguimos desenvolver da melhor forma. Quando avançamos, demos azar de pegar o Palmeiras, apesar que a gente já imaginava. Mas antes disso, optamos de poupar alguns atletas contra o Aster no último jogo da primeira fase, porque pegaríamos o Palmeiras de qualquer jeito.

E mesmo poupando, quase ganhamos a partida. E contra o Palmeiras, fizemos um bom jogo, principalmente no primeiro tempo. O Davi, nosso goleiro, não fez uma defesa. Tirando aquele gol de escanteio, que na nossa opinião foi falta, o Pedro Lima foi empurrado.

Se a gente não toma aquele gol, viraríamos o intervalo vencendo e tudo poderia ser diferente. Mas a gente conseguiu neutralizar eles, sabíamos que ia ser difícil, eles tem jogadores de altíssimo nível, e sabíamos que só tomaríamos gols em erros individuais. Mas faz parte, acho que serviu de aprendizado para todo mundo.

Alguns dos atletas presentes estavam fazendo sua primeira Copinha, além do Thiago Larghi, que realizou seu primeiro trabalho com base. Então, ele ainda está se adaptando, é tudo muito novo. Porém, estamos no caminho certo. Em breve vamos estar colhendo bons frutos.

Click Esportivo – Até que ponto, nesses três jogos iniciais, o estado do gramado sintético atrapalhou o desempenho do Sport? 

Jogamos em um carpete, parecidos com aqueles de pelada, além de ter muita borracha. A bola fica presa, o jogo se torna mais lento, a bola fica muito viva em alguns momentos. Então, para a gente que procura criar um jogo mais construtor, de troca de corredor, ataque ao espaço, com bola no chão fica difícil. E, querendo ou não, os meninos vão perdendo confiança, ficam com medo de errar um passe. Tudo isso complica.

Além do calor, jogos de 13h, 15h da tarde, o chão fervia, sensação de 60º, os garotos passando mal por conta do calor. Aí você vai somando uma série de coisas, e na hora de analisar o desenvolvimento não agrega muito. Obvio que a experiência da competição, do jogo, conta muito, mas em termos de desenvolvimento de jogo, quase nada. Tirando aquele jogo do Palmeiras.

Click Esportivo – O Sport foi eliminado pelo Palmeiras, que acabou eliminado pelo Aster na sequência. O Sport quase ganhou do próprio Aster na fase de grupos com o time misto, podendo inverter os mandos, pegando o Oeste, ao invés do Palmeiras. Então tudo é muito nivelado, né?

A gente trabalha com meninos, são garotos em formação. Eles oscilam muito, isso é cientificamente comprovado. Contra o Aster optamos por mesclar, visando descansar mais o time. Contra o Santo André estava muito calor, vários garotos acabaram passando mal, com casos de desidratação, então demos uma segurada para não perder atletas por lesão. Mas é tudo muito nivelado. Tem dias que os meninos estão bem, as vezes não estão bem, a bola entra, a bola não entra, então vai ser dia que é feriado. Faz parte.

Click Esportivo – Balanço inicial do trabalho de Thiago Larghi. Ele vinha participando de trabalhos mais locais, e agora teve um grande desafio na Copinha.

Ele é um profissional que dispensa comentários, é um cara extremamente capacitado naquele do que faz, mas nunca tinha vivido base. Ele também está se adaptando a algumas situações, estilos de jogos. E depois do jogo contra o Palmeiras ele falou: “Eu não imaginava que a base fosse tão competitiva assim”. E eu disse pra ele: “O nível é alto, e os meninos competem até morrer, não é que nem o profissional, que as vezes ele ficam dosando.”

É obvio que a gente quer ter o resultado coletivo, estamos buscando sempre isso, mas o nosso objetivo principal é desenvolver os atletas. Colocar atletas no profissional, vender atletas, então ele está completamente comprometido com esse projeto. Agora vamos colocar Baraka e Pedro Lima no profissional na próxima semana, então isso é um saldo positivo pra gente.

Dois atletas que estavam na Copinha subindo. Então, isso é extremamente importante, mostra que as coisas estão indo pelo caminho certo. Por isso bato muito na tecla da gente continuar disputando competições de alto nível, para quando eles chegarem lá não sentirem tanto.

A gente tem buscado novas competições internacionais, vamos de novo para Portugal. O processo é lento, faz parte. Não é porque ganha que está tudo certo, não é porque perde que está tudo errado. Então as coisas estão andando muito bem.

Click Esportivo – Como foi a conversa para definir a utilização de um time misto diante do Aster, na última rodada da fase de grupos?

A gente trabalha em conjunto. As nossas decisões nunca são apenas de uma pessoa. Desde quando eu cheguei no clube, implementei um comitê para decidir tudo junto. Seja para contratar jogador, dispensar jogador, subir alguém para o profissional. Inclusive, implementei fichas de aprovação, de dispensa, tudo fica documentado, quem quiser por ir lá no clube olhar. Então, a situação do jogo contra o Aster foi em conjunto, como a gente ia fazer, como íamos montar. Depois de um jantar a gente sentou, e todo mundo foi dando ideias de como deveríamos fazer.

Se a gente fica em primeiro, pegaríamos o Oeste. Mas teríamos que jogar novamente em Itaquaquecetuba, porque o Oeste jogaria lá, e que pra nós é ruim. Teríamos um desgaste absurdo, eles viriam jogar por uma bola, jogariam fechados, a gente ia ter que brigar, brigar, brigar, e nada garante que a gente ganharia. Se a gente vai com o time titular contra o Aster, daqui a pouco tem uma lesão, um desgaste maior, e mesmo assim a gente não ganha o jogo, contra o Palmeiras estaríamos desfalcados. Então a gente entendeu que poderia ganhar do Aster com um time misto, porque no geral, não ia alterar muito.

Jogamos para ganhar, e por um detalhe não ganhamos o jogo. Além disso, queríamos dar minutagem para todos, os garotos precisavam se sentir uteis ali dentro. Foi para o jogo quem estava realmente apto. Até pensamos em deixar os zagueiros Baraka e Nasson de fora, mas eles são dois cavalos fisicamente, então sem detalhes. Optamos por uma estratégia, e se a gente não toma aquele primeiro gol do Palmeiras, naquele momento, a gente com certeza iria se classificar.

Click Esportivo – Vocês tem conhecimento de que Mariano Soso assistiu os jogos do Sport na Copinha?

Eu não conversei com o Mariano Soso ainda. Eu converso mais com o Ricardo Drubscky, ele eu sei que assistiu todos os jogos. Mas eles estão extremamente ligados no que a gente está fazendo na base, principalmente o Ricardo. Acho que, logo mais, novos jogadores podem estar integrando o time profissional.

Click Esportivo – Na sua opinião, quem foram os destaques do time na Copinha? Observamos aí Arthur, Pedro Lima, Baraka, Gilwagner, dentre outros…

Para mim é uma satisfação grande, principalmente quando se fala de Arthur e Gilwagner, pois eu que monitorei eles e a gente conseguiu trazer. Arthur veio do Mirassol, o Gil veio do Botafogo, e chegaram para suprir carências que a tínhamos no elenco.

O Arthur veio como um “10”, não vinha sendo utilizado pelo Sued Lima (ex-treinador), e quando o Thiago Larghi chega e faz uma analise de todo o grupo, ele consegue enxergar um potencial no Arthur como camisa “8”. A partir daí, ele decolou de uma maneira impressionante, ele tem personalidade para jogar, muita qualidade técnica, eu considero ele um profissional pronto para jogar.

E o Gilwagner nem se fala, oito anos de Botafogo, jogou várias competições por lá, então não tem como ser desprezado. Ele tem qualidade, finaliza bem, sabe sair pro jogo, tem variedade para jogar nas três posições na frente. Outro nome é o Marcelo Henrique, que já era um cara da casa, joga em três, quatro posições lá na frente, então são garotos que tem qualidade e podem pintar logo mais no time profissional.

Click Esportivo – Como foi o monitoramento do Sport na Copinha? Vocês conseguiram pincelar atletas para reforçar a base do clube em um futuro próximo?

A gente levou o Gabriel, que é nosso coordenador de captação para a Copinha. Alugamos um carro, rodamos bastante para analisar melhor os atletas. Quem não estava rodando, acompanhou pelo Youtube, pela TV, mas acompanhamos todos os jogos.

Temos um relatório com destaques e vamos ser bem agressivos no mercado, tendo, inclusive, situações engatilhadas. Tem um menino que já está acertado, tem outro, do ABC, que a gente acertou com ele na Copa Recife, que foi antes da Copinha. O nome dele é Rafael, volante. Deve ser apresentar na próxima semana.

Outro que está chegando é um meia que vimos atuando pela Portuguesa Santista, além de outros jogadores que podem acabar chegando para ajudar. Tem nomes mais difíceis, porque a Copinha acaba inflacionando vários nomes. As vezes você faz um gol lá e o preço sobe para R$ 1 milhão, então as vezes é melhor deixar o tempo passar a empolgação e depois trazer.

Click Esportivo – Existe a possibilidade de empréstimos? Atletas que no momento não vão ser utilizados no time profissional, ou até mesmo pelo próprio Thiago Larghi na base, visando pegar mais rodagem.

Já venho conversando com João Marcelo Barros, alguns atletas acabaram chamando atenção de alguns clubes. Temos conversado. É possível que alguns atletas acabem saindo para ganhar mais rodagem de nível profissional, e depois retornar para integrar o time do Sport no futuro. Todos os atletas estão bem amarrados. Até para emprestar, você não pode ter contrato amador. Precisa ter o contrato profissional.

Click Esportivo – Como ficou aquela história do Enzo Vagner? O Benfica teria interesse, mas ele não tinha contrato profissional, depois parou de treinar pré-Copinha por conta da negociação. Como foi lidar com tudo isso?

O futebol tem dessas coisas. Negociações as vezes demoram mais, demoram menos. Ele é um garoto super do bem, educado, muito bom jogador, eu fiz de tudo para manter ele aqui, e no fim deu certo. Acabou que se tornou uma negociação com o pessoal de cima, envolvendo presidente Yuri Romão e o João Marcelo.

Ele tinha um contrato de formação, ele foi bem na competição de Portugal, fato que chamou atenção do Benfica, como revelou o presidente, e obviamente gera uma ansiedade no atleta que é muito jovem ainda, sobe pra cabeça.

Porém, achamos que ele ainda precisa ser melhor lapidado, desenvolver e terminar o processo de formação, porque não é qualquer um que chega na Europa e já sai jogando. Então, ele fica. É jogador do Sport, assinou contrato profissional, e vai se reapresentar normalmente.

Click Esportivo – Além da competição em Portugal, que você confirmou, quais outras competições fora do país o Sport busca disputar para seguir dando rodagem aos garotos?

O que eu posso te abrir é que estamos com o calendário cheio. A Federação Pernambucano vai apoiar mais a base esse ano. Ela deve criar duas competições a nível Estadual, no primeiro e no segundo semestre. Tem a competição que o Retrô faz no final do ano, que é muito boa, vamos disputar esse ano. Tem uma em Portugal, em novembro.

Mas estamos buscando mais uma ou duas fora. Vamos buscando convites, analisando a questão do orçamento também. Portugal, por exemplo, é um pouco mais em conta. Temos visto algumas na Espanha, tem a Dallas Cup, nos Estados Unidos, que a gente tinha interesse mas eles deram prioridade para Botafogo e São Paulo, porque foram ano passado. Acabamos ficando sem essa vaga.

Tem uma na Croácia, na Itália, outra na Suíça que é muito legal também, mas estamos trabalhando para conseguir. Obvio que a marca cresce de patamar quando você sai do país, porque você expõe atletas, patrocinadores, mas o ponto principal é colocar os atletas na vitrine para quando eles chegarem no time profissional, ou na disputa de uma competição nacional, estarem mais preparados.

Quando fomos para Portugal, enfrentamos Benfica, Porto, então os garotos não vão esquecer isso nunca. É sem palavras os ganhos que a gente acaba conquistando quando disputa essas competições.

Click Esportivo – Como você analisa essas reformas que estão acontecendo no CT? Várias dessas mudanças agraciando a base, como a implementação de um gramado sintético, um novo hotel, uma sala nova, dentre outras coisas.

Desde quando eu cheguei, falo muito com o João Marcelo Barros, com o presidente Yuri Romão, de que para formar atletas a gente precisa de três pilares: Estrutura mínima, competições de nível e profissionais gabaritados para desenvolver esses jogadores. Quando a gente chegou não tinha estaca, não tinha bola direito, não tinha pratinho, os campos eram um terrão. Não tem como formar jogador assim. Vai formar no empírico, vai sair um um Gustavo da vida, um Mikael, a cada três anos, de forma aleatória.

Se a gente quer formar jogador e todo ano colocar três, quatro, no time profissional, tem que ter estrutura. Os garotos precisam competir em alto nível até para acontecer uma seleção natural dos atletas, para quando eles chegarem lá em cima não sentirem tanta diferença. E a direção como um todo entendeu isso e vem dando todo o suporte.

Obviamente eles não saem comprando tudo de uma vez, demanda um certo tempo, mas as coisas estão acontecendo. Os departamentos estão melhores definidos internamente, com profissionais e equipamentos capacitados. Outro ganho foi o campo sintético, a chegada de bolas novas, então não falta nada. Estamos começando uma temporada com uma ótima estrutura.